TEMA: IDENTIDADE
OBJETIVO: DISCUTIR UMA DAS GRANDES QUESTÕES DO MUNDO CONTEMPORÂNEO, POR QUE PARA ALGUNS, OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE INDETIDADE ESTÁ PASSANDO POR UMA GRANDE TRANSFORMAÇÃO. E, POR ISSO, O PROGRAMA TRAZ ALGUNS CONVIDADOS PARA TRATARMOS AMPLAMENTE DESTE ASSUNTO SEM FORMAR OPINIÃO E SIM DISPERTAR NA JUVENTUDE O SEU SENSO CRÍTICO.
Enquanto Projovem acreditamos que por muito tempo a identidade foi vista como algo fixo, imutável, centralizado e individualizado. Mas atualmente parece que esta imagem de identidade ruiu, revelando uma estrutura muito frágil e maniqueísta. O mundo em que vivemos deixou isso muito claro, haja vista o surgimento de novos grupos sociais, novas comunidades e formas de pertencimento, participação política e produção cultural. O próprio avanço das novas tecnologias de informação e comunicação também acabou por mudar a nossa maneira de concebermos a nós mesmos e o outro. Se por um lado, esse contexto torna mais difícil continuar a acreditar em estereótipos e categorizações, por outro, produz também uma grande ansiedade.
Aline:
Achar o “quem sou eu” é uma missão impossível, podendo causar frustração e gerar até mesmo muitas formas de preconceito e julgamentos.
Adriele:
Se podemos falar em “identidade” temos que pensar em algo móvel, múltiplo, fragmentado, descentralizado, que muda de acordo com o tempo e com o espaço, que se constrói na minha relação com o “outro” e com o mundo ao meu redor. Certamente, a concepção que eu tenho de mim e das coisas hoje será diferente daquela que terei no futuro. Ainda assim, como disse Bauman, a identidade é uma ficção necessária, pois ela nos ajuda a resolver muitas questões. Mas penso que isso é verdade desde que tenhamos consciência de sua mobilidade e fragmentação.
Poema de Carlos Drummond de Andrade.
EU ETIQUETA
Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
CONCLUSÃO:
Não podemos simplesmente definir a identidade como aquilo que diz quem ou o que você é? Como algo que diz a nós ou aos outros, o que somos ou o que acreditamos que somos? Aquilo que faz nos enxergarmos de uma dada maneira.
